Relato de Roger de Abreu Cardoso:
"Quando cheguei ao Chile Para correr pela terceira vez o Cruce de los andes, eu sabia que tinha uma missão diferente pela frente, e certamente a mais difícil para mim.
Dessa vez a prova não era minha.
O meu objetivo como já tinha relatado aos amigo mais próximos era fazer com que fosse possível a Leticia, que começou a correr há um ano e meio conseguisse correr os 100k de uma dificílima.
Fiz questão de chegar mais cedo em Puerto Varas que era a cidade sede para que houvesse tempo de aclimatar, mas isso só serviu para aumentar a tensão, por que o clima já se mostrava duro, temperaturas abaixo de 12 graus e chuva que insistia em cair o dia inteiro, só deixaram todos mais apreensivos com o que estava por vir.
No dia da largada, parecia que a chuva estava mais forte e que estava mais frio.
A margem do Lago Esmeralda onde ficava o pórtico de largada estava negra, não era possível enxergar nenhuma montanha quanto mais o grande OZORNO que era nosso destino. Após 40 minutos de espera foi dada a largada, todos largaram com tudo que tinham para se esquentar com a esperança de que quando começasse a correr fossem aquecendo, que engano, quando começamos a subir a encosta do vulcão o vento aumentava rapidamente e o frio fazia as mãos mesmo de luva doerem muito. Eu olhava para minha dupla e ela tinha uma certa expressão de pavor que ela não queria deixar transparecer.
Chegando na parte mais alta o vento de 50km/h junto com a chuva forte fazia a sensação térmica ficar por volta dos 7 graus negativos. E aí eu me dei conta de que o temido esforço pela subida nem tinha passado pela cabeça da Letícia. A concentração dela estava apenas em sobreviver aquilo.
Já passando aquela situação há umas duas horas avistamos um quadrícula e uma pick-up da organização. A Letícia falou para mim: "eu vou pedir para eles me levarem daqui, eu não estou aguentando" e eu respondi que prova de montanha não era assim, não adianta pedir para sair, tem que ir até o final sem desculpa. E completei dizendo que assim que virássemos o cume o clima melhoraria. Ela então começou a correr muito subindo com força que eu mesmo tive que me apressar para acompanhar.
Na descida da encosta a Letícia corria tanto que nós passamos mais de vinte duplas, tamanha a alegria dela de sair daquela situação.
Chegando ao posto de abastecimento encontramos Dudu e André, e a felicidade foi enorme, saímos dali combinado que correríamos o resto da prova juntos, mas na primeira subida cheia de lama o tênis da Letícia saiu do pé agarrado na lama e então nos separamos. Dali se seguiram 15 km d um lamaçal que muitas vezes chegava ao joelho e que diversas vezes fazia o esforço de dar um passo impossível. Em um momento duas pessoas tiveram que agarrar a Letícia para desatolar. Entramos em uma floresta fechada e de repente tudo parou, uma fila? Eu fui até a frente para saber o que acontecia, um barranco de lama com uma corda afunilava a passagem. Foram 2 horas parados ali, com muito frio, trocamos de roupa, pois havia levado camisas secas, a nossa roupa estava tão molhada que sem roupa estava até mais quente. Descemos o barranco e na subida do outro lado havia outro que as pessoas não conseguiam subir, ajudei algumas pessoas e fomos adiante. Chegando nos 10km finais o lamaçal ficou para trás e uma estracinha de terra batida tomou seu lugar podíamos finalmente correr, mas o esforço de superar os lamaçais já havia cobrado seu preço, o joelho que perturbou a Letícia após uma queda em janeiro, já estava estragado. A dor já não permitia que ela corresse, andamos forte até o acampamento, nesse momento mais tranquilo eu tive oportunidade de refletir sobre a prova. E percebi que uma prova de montanha sai de controle queira a organização ou não, por que quem manda na montanha é a natureza e ela é soberana. O competidor pode fazer apenas duas coisas se preparar o máximo possível e ser resignado e humilde para aceitar.
Chegamos finalmente ao acampamento depois de 10:30 de prova o joelho da Letícia nem dobrava mais, depois de esfriar, não dava para ela apoiar no chão.
A única opção era abandonar a prova. Apesar da tristes afica a certeza que ambos ano que vem estarão de volta para desfiar mais uma vez a natureza com a humildade de quem alcança a felicidade plena nas montanhas."
"Quando cheguei ao Chile Para correr pela terceira vez o Cruce de los andes, eu sabia que tinha uma missão diferente pela frente, e certamente a mais difícil para mim.
Dessa vez a prova não era minha.
O meu objetivo como já tinha relatado aos amigo mais próximos era fazer com que fosse possível a Leticia, que começou a correr há um ano e meio conseguisse correr os 100k de uma dificílima.
Fiz questão de chegar mais cedo em Puerto Varas que era a cidade sede para que houvesse tempo de aclimatar, mas isso só serviu para aumentar a tensão, por que o clima já se mostrava duro, temperaturas abaixo de 12 graus e chuva que insistia em cair o dia inteiro, só deixaram todos mais apreensivos com o que estava por vir.
No dia da largada, parecia que a chuva estava mais forte e que estava mais frio.
A margem do Lago Esmeralda onde ficava o pórtico de largada estava negra, não era possível enxergar nenhuma montanha quanto mais o grande OZORNO que era nosso destino. Após 40 minutos de espera foi dada a largada, todos largaram com tudo que tinham para se esquentar com a esperança de que quando começasse a correr fossem aquecendo, que engano, quando começamos a subir a encosta do vulcão o vento aumentava rapidamente e o frio fazia as mãos mesmo de luva doerem muito. Eu olhava para minha dupla e ela tinha uma certa expressão de pavor que ela não queria deixar transparecer.
Chegando na parte mais alta o vento de 50km/h junto com a chuva forte fazia a sensação térmica ficar por volta dos 7 graus negativos. E aí eu me dei conta de que o temido esforço pela subida nem tinha passado pela cabeça da Letícia. A concentração dela estava apenas em sobreviver aquilo.
Já passando aquela situação há umas duas horas avistamos um quadrícula e uma pick-up da organização. A Letícia falou para mim: "eu vou pedir para eles me levarem daqui, eu não estou aguentando" e eu respondi que prova de montanha não era assim, não adianta pedir para sair, tem que ir até o final sem desculpa. E completei dizendo que assim que virássemos o cume o clima melhoraria. Ela então começou a correr muito subindo com força que eu mesmo tive que me apressar para acompanhar.
Na descida da encosta a Letícia corria tanto que nós passamos mais de vinte duplas, tamanha a alegria dela de sair daquela situação.
Chegando ao posto de abastecimento encontramos Dudu e André, e a felicidade foi enorme, saímos dali combinado que correríamos o resto da prova juntos, mas na primeira subida cheia de lama o tênis da Letícia saiu do pé agarrado na lama e então nos separamos. Dali se seguiram 15 km d um lamaçal que muitas vezes chegava ao joelho e que diversas vezes fazia o esforço de dar um passo impossível. Em um momento duas pessoas tiveram que agarrar a Letícia para desatolar. Entramos em uma floresta fechada e de repente tudo parou, uma fila? Eu fui até a frente para saber o que acontecia, um barranco de lama com uma corda afunilava a passagem. Foram 2 horas parados ali, com muito frio, trocamos de roupa, pois havia levado camisas secas, a nossa roupa estava tão molhada que sem roupa estava até mais quente. Descemos o barranco e na subida do outro lado havia outro que as pessoas não conseguiam subir, ajudei algumas pessoas e fomos adiante. Chegando nos 10km finais o lamaçal ficou para trás e uma estracinha de terra batida tomou seu lugar podíamos finalmente correr, mas o esforço de superar os lamaçais já havia cobrado seu preço, o joelho que perturbou a Letícia após uma queda em janeiro, já estava estragado. A dor já não permitia que ela corresse, andamos forte até o acampamento, nesse momento mais tranquilo eu tive oportunidade de refletir sobre a prova. E percebi que uma prova de montanha sai de controle queira a organização ou não, por que quem manda na montanha é a natureza e ela é soberana. O competidor pode fazer apenas duas coisas se preparar o máximo possível e ser resignado e humilde para aceitar.
Chegamos finalmente ao acampamento depois de 10:30 de prova o joelho da Letícia nem dobrava mais, depois de esfriar, não dava para ela apoiar no chão.
A única opção era abandonar a prova. Apesar da tristes afica a certeza que ambos ano que vem estarão de volta para desfiar mais uma vez a natureza com a humildade de quem alcança a felicidade plena nas montanhas."
Parabéns Roger!