O Relato de
um dentista que virou corredor.
Estávamos
lá!!! Simpósio técnico, os 80 corajosos atletas, doidos por qualquer informação
sobre a prova.
O dia começa e a tensão vai aumentando, quando 13:15 da tarde largamos a
humildes 6min/km eu e meu amigo e parceiro Fabrizio. Roger e Ashbel dispararam
na frente mas os mantínhamos no visual. Coração começou a ficar acelerado e
diminuímos o ritmo para 6:30. No km 5 de prova, sofria do estômago com muitas
dores mas mesmo assim alcançamos o Roger que já estava em sua marcha habitual
que garantiria percorrer seus 80k, seu parceiro careca Ashbel, sumira nas ladeiras
a frente. Muito calor e finalmente ponto de hidratação no km 10 - Gatorade
gelado – OBA- estávamos sobre a escolta do experiente André Guarischi,
agora éramos 3 amigos mantendo o ritmo embora eu e Guarischi sofrendo e
diminuindo a velocidade em busca de alguma recuperação. Foi tomada a decisão,
Fabrizio deveria seguir sozinho na frente, eu estava muito lento e precisava
parar de correr um pouco, não conseguia forçar nas subidas e não estava me
alimentando. A essa altura nosso terceiro elemento, caminhava lentamente e
acabou dessa vez parando sozinho. Preocupado, resolvi parar no alto da trilha
por longos 5 mim, me hidratei e aos pouco fui melhorando e aí desci a trilha
como uma lesma. HAHAHA
Já com 2 horas e meia de prova estava renovado, sentia-me melhor, era asfalto
debaixo dos meus pés, o ritmo aumenta. Nesta hora, sou acompanhado em
pensamento por pessoas queridas, na Alynne que certamente estava ansiosa por
qualquer noticia, na galera dos treinos, no WT. Eu estava correndo cada vez
mais rápido.
Pensei do alto de mais uma ladeira conquistada – Agora sim sou um corredor,
estava treinado. E falei em voz alta para que eu mesmo pudesse ouvir: MAS QUE
VELHO FILHO DA PUTA, ELE É FODA!!! Estava surpreso por esta ali encarando os
80k passando todos os corredores que me passaram quando estive parado há 1 hora
atrás e pensando em desistir. Sigo pensando e me lembrei do Senna que disse:
“Se você está na metade, você ainda não fez nada.” Quer moleza não sai de
casa!!! HAHAHA
Veio a noite, trazendo com ela a dificuldade de correr na trilha bastante
técnica, hora de fortalecer o espirito e agradecer a todos que participaram
para que eu chegasse até ali. Mantinha um ritmo lento, estava completamente
sozinho, imaginava estar no caminho errado, chuva leve e neblina temperavam o
ambiente sombrio. Condições PÉSSIMAS de corrida!!! Consultas e mais consultas
no garmin, cálculos frenéticos para chegar no tempo limite (no km 45), com o
meu ritmo, não daria tempo.
Já estava no automático e triste por estar tão lento, tentava acelerar e era
tombo atrás de tombo pois não tinha lanterna. Foi quando fui alcançado pelo
amigo Bruno Reis e sua lanterna fodástica, falamos palavras de incentivo como:
seu viado escroto e arrombado. Fizemos contas e falamos que estávamos no limite
do cu da mãe, rimos muito e aceleramos rumo a escuridão. Éramos corredores
novamente, pulávamos pedras e riachos, estávamos no ritmo necessário para
chegar a tempo no km 45. – Agora Brunão, é só descida!!! Voamos ladeira a
baixo, praia, areia, luzes e lá estava o alvo, a tenda do special needs. Que
máximo encontrar o Ashbel, fiz meu cumprimento habitual, um berro
AAAASSSSHHHBBBEEELLLL!!!!! Fiquei muito emocionado ao encontra-lo e nos
abraçamos, ele estava bem! Mas para minha completa surpresa, ouço meu parceiro
desgarrado chamar meu nome – FILIPE??? Ele repete!!! E eu mudo, sem responder
porque estava sem palavras. Fabrizio estava ali também, meu parceiro de
treino, meu brother. E sem usar meu special needs, e ele sem acreditar que eu
estava ali, seguimos juntos para o próximo desafio 15k de trilhas até o próximo
corte 60k. Tínhamos 4 horas para cumprir a missão.
Fabrizio demostrava sinais claros de câimbras e muito desconforto nos pés.
Parada para cuidar dos pés de Fabrizio. Passa Ashbel que seguiu subindo
motivados por nós. Tudo pronto, seguimos viagem e alcançamos Ashbel que
já estava sofrendo com os 50k da dura corrida, estávamos correndo a mais de 7
horas. Nossos corpos já não nos pertenciam mais. Agora, era a tempestade que
veio para castigar, a trilha virou um rio, tombos e mais tombos, escuridão
total, preocupação com os amigos.
Com a tempestade assolando, pensamos não haver mais condições de prova, ela
seria cancelada. Velocidade mínima, os kms não passavam. Minha dupla escorregava
muito com seu novo e poderoso tênis North Face, até que a trilha desabou com
ele, eu em pânico ouço ele do fundo do barranco berrando para meu conforto –
Estou bem cara! Pensei pqp, está muito perigoso!!! Passo a passo confirmávamos
a navegação. Estávamos próximos dos 60km, atingimos a praia de Castelhano - Vai
dar cara, estamos no limite mas vamos terminar a prova!! Energia lá no alto
novamente. A organização confirmou - Podemos seguir para os últimos 20k.
Maçã, gel, água, tudo pronto, podemos seguir. Meia noite e o tênis do Fabrizio
insistia em acabar com ele, para piorar ele estava passando mal, não conseguia
se alimentar. Pensei intimamente – Caramba, ele esta sofrendo muito.
Agora, não eram os 20k que me preocupavam e sim meu parceiro. Ele estava
lutando para continuar e ponderei se não seria melhor desistir... Ele se
limitou a seguir em frente. Lance estava nos nossos pensamentos, “a dor é
passageira, mas desistir é para sempre”. Parada técnica para vaselina, dois
babacas em frangalhos, mortos-vivos passando vaselina no escuro, credo!!! QUE
FAAASE!!! 10k de subida em 2 horas, éramos os últimos da prova e do ponto mais
alto, uma rápida conversa com os staffs de prova e ladeira abaixo até a cidade.
O frio da madrugada estava nos desgastando ainda mais. Saímos do confortável
ritmo de 12 min por km e passamos a correr de verdade, 7 mim por km
(hahahahaha) era a nossa velocidade máxima, Sprint final. No frio e no silêncio
da madruga, estávamos sendo seguidos pela moto da organização, já passava das 3
da manhã. Corremos por quilômetros completamente mudos, estávamos
exclusivamente correndo lado a lado, sabíamos o que estávamos fazendo, nada
mais importava. Avistamos a luz da cidade deserta e silenciosa, adentramos em
suas ruas de pedra, direita, esquerda, direita de novo, um cara de carro nos
incentiva – Guerreiros, guerreiros!!! Só olhávamos para frente e a emoção nos
assolava, estávamos na praia, o relógio já marcava 80km, seguimos rumo a linha
de chegada. Ciclovia, ponte e nossos olhos cheios de emoção avistaram poucos
torcedores, o pórtico de chegada à 200 metros, 14horas e 30 min de prova e
muito garra para chegar até ali, focalizamos o pórtico!! Agora, eram 100 metros
para glória, sobreviventes malucos... CHEGAMOS!!!!! Nos parabenizamos
muito emocionados...
82k de pura
adrenalina. Afinal parceiro, MISSÃO DADA, É MISSÃO CUMPRIDA!!! É
SELVAAAA!!!!!!!!!!!!!!
Muito
obrigado Walter Tuche essa ficou pra hitoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário