BR 135 - um breve relato

Para meus avós, minha mãe, meu pai, Mariana & Pedro.


Há toda uma mística que envolve a ultramaratona mais difícil do Brasil: são 135 milhas (aproximadamente 217Km) para serem percorridas em, no máximo, 36 horas. Desta distância total, apenas 5km são planos. O resto é subida e descida e para todos os gostos. O caminho escolhido para a prova é o mesmo que é realizado por peregrinos que se dirigem a Aparecida. Não há como esquecer que o caminho é mesmo o CAMINHO DA FÉ.

A largada é dada às 8h em São João da Boa Vista. Nosso objetivo: completar a prova. O primeiro trecho foi percorrido pelo meu grande amigo João Marinho. Antes de sua chegada a Águas da Prata (19Km) alguns corredores (alguns na categoria solo) já despontavam nesta cidade com uma média impressionante de 5min/km.

João Marinho chegou e saí para o meu primeiro trecho (Águas da Prata – Andradas) que inicialmente seriam de 44Km. Já nos 2 primeiros quilômetros percebi que não seria fácil. Andei muito tempo sob forte calor e só consegui correr após o 3km. Mas, a partir daí, a experiência de outras atletas e a minha capacidade de observação indicaram que nas subidas se deve andar. A BR135 pede e merece respeito. Ao atleta, a humildade.

Tive o prazer de correr e cumprimentar grandes nomes da ultramaratona que fui, com muita humildade, ultrapassando: Kurt Lindermuller (“panturrilha de ferro”), Adilson Ligeirinho, entre outros.

Subi o Pico do Gavião pensando em todos vocês da Equipe Walter Tuche com quem tive o privilégio de conviver. Cada um, cada um de vocês andou comigo durante os mais de 4km de forte subida. Ao chegar lá agradeci a todos vocês, em especial ao Mestre Walter Tuche.

Na chegada da descida, fui facilmente convencido de que não era mais preciso correr os 44km. Terminei meu primeiro trecho com 21km e descansei algumas horas até que fui percorrer mais 16Km. Já sabia que estávamos em terceiro na categoria trio e que estávamos a 5min do segundo lugar. Acompanhado do meu pacer Diego Porto e mesmo com um calor infernal, partimos com tudo. Ao final do primeiro trecho de 7km, os avistamos e não tivemos dó: corremos a 4min/km para ultrapassar e garantir uma margem de tempo para o nosso próximo corredor.

O resto foi administrar a hidratação e a perda de peso (tarefa que coube a Christiane, nossa nutricionista).

Voltei a correr à 01 da manhã. Seriam meus últimos 22km. Estrada de terra, lua cheia, cachorros soltos, lanterna mágica e sentando a pua.

Chegamos ao penúltimo trecho com 1 hora de desvantagem em relação aos primeiros lugares, mas com mais de 1h de vantagem para os terceiros colocados.

Mas, por capricho do destino, nosso corredor perdeu a entrada para a estrada de terra que conduziria à linha de chegada. Resultado: tivemos que voltar. Mas, como eu relatei acima: estávamos no CAMINHO DA FÉ. Coube a mim o destino de voltar e correr os últimos 9km. Ritmo forte e muita vontade de viver. Agora eu havia descoberto que o CAMINHO DA FÉ era o caminho que havia me levado à felicidade.

Perdemos a segunda colocação, mas isso não importa. Na BR135 não há pódio. A glória é ter se tornado eterno e ter aprendido que o impossível não existe.
Fabrízio