segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

LESOES AGUDAS EM CICLISTAS


Lesões Agudas em Ciclistas

Thiago Ayala Melo Di Alencar1,2

Karinna F. de Sousa Matias1

Bruno do Couto Aguiar3

1Fisioterapeuta da Clínica Fisio Vitale e do Studio Bike Fit

2Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica

3Residente da Unidade de Traumatologia e Ortopedia do Hospital de Base do Distrito Federal

 artigo original e referencias bibliograficas em:
Texto publicado sob autorização do :
Equipe tudio Bike Fit® ; +55 62 39320333 ; Goiânia - GO - Brasil
Resumo: O crescente aumento do número de ciclistas associado à negligência ao uso dos equipamentos de segurança e do risco de queda tem favorecido o aumento da ocorrência de acidentes relacionados à prática do esporte. O objetivo desta revisão integrativa foi realizar o levantamento das principais lesões agudas que ocorrem em ciclistas. Foram revisados oitenta e um textos, entre artigos e livros selecionados segundo o critério de inclusão: (1) estudos que abordaram lesões agudas, acometendo estruturas musculoesquelética e/ou vascular em ciclistas; (2) publicados de janeiro de 1955 a julho de 2012; (3) escritos no idioma português e inglês. Os resultados encontrados revelaram que o uso de capacete é eficiente para proteger o ciclista contra lesões na cabeça, porém os modelos sem proteção facial deixam o ciclista exposto às fraturas de face, principalmente terço médio e inferior. Outros dados mostraram que para evitar escoriações, lacerações, contusões, fraturas e luxações, os ciclistas precisam usar os equipamentos de segurança devidos, como capacete, óculos e luvas de ciclismo, ser cauteloso em terrenos irregulares e desconhecidos e não abusar da habilidade conquistada. A maioria das lesões necessita de atendimento médico e a fisioterapia traumato-ortopédica apresenta função importante na reabilitação cinético-funcional para retorno ao esporte.

Palavras-chave: ciclismo, acidente, lesão.

INTRODUÇÃO

O ciclismo é uma atividade esportiva de muito baixo impacto cuja facilidade em adquirir condicionamento cardiovascular tem motivado, mais do que qualquer outro esporte, as pessoas a começarem a pedalar. Paralelo ao aumento na popularidade do ciclismo tem-se observado uma incidência crescente dos traumas relacionados à sua prática1-3, especialmente, em ciclistas que  negligenciam o uso de equipamento de segurança e os riscos de queda.

O objetivo desta revisão foi identificar as principais lesões agudas em ciclistas e discutir os hábitos que podem contribuir com a redução de suas ocorrências. Desta forma, este artigo pode favorecer a compreensão do mecanismo de trauma e cuidados iniciais pela equipe e profissionais que prestam primeiros socorros em eventos ciclísticos.

 MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em periódicos indexados nos bancos de dados PubMed e ScienceDirect, mediante os descritores ciclismo, acidente, lesão e os correspondentes em inglês cycling, accident, injury. Foram revisados oitenta e um textos, entre artigos e livros selecionados segundo o critério de inclusão: (1) estudos que abordaram lesões agudas, acometendo estruturas musculoesquelética e/ou vascular em ciclistas; (2) publicados de janeiro de 1955 a julho de 2012; (3) escritos no idioma português e inglês. De posse dos artigos selecionados, procedeu-se à leitura integral dos mesmos para extrair a relação de tipos de lesões e topografia acometida, de forma a serem utilizados como referencial e marco teórico para a discussão e ampliação dos conceitos sobre o tema abordado.

RESULTADOS

De todas as lesões agudas, as escoriações apresentam maior incidência, seguidas pelas contusões, lacerações e fraturas. Os inúmeros relatos de casos referentes à ocorrência de lesões (e. g. lesão visceral, ruptura diafragmática, lesão da artéria femoral, paraplegia) em ciclista de montanha revelam que esta modalidade esportiva expõe mais o ciclista às lesões agudas se comparada às outras modalidades. Desta forma, apesar do ciclismo de montanha apresentar menor velocidade média, o risco de lesões mais graves é relativamente maior. As quedas em sua maioria devem-se à passagem em valas e buracos, perda de tração e controle, velocidade excessiva em curvas, falha mecânica, bem como à tentativa de evitar colisão com outro ciclista, carro ou objeto estacionário4-10.

Os resultados observados apontaram que o uso de capacete como medida de segurança contra lesões na cabeça é fundamental e que a utilização de capacetes com proteção facial é eficiente em reduzir os riscos de fraturas orofaciais6,11-14. Além disso, o uso de protetores bucais é uma alternativa para proteger o ciclista contra lesão dento-alveolar15. Quanto ao comprometimento motor, cinco casos de lesão medular foram relatados em ciclistas de montanha10,16. Dos órgãos lesionados destacaram-se: baço17,18, fígado, intestino delgado19, rins, pâncreas18 e pulmão20. Lesões mais incomuns são de artéria femoral21, artéria cavernosa22 e artéria pudenda23 além de desenvolvimento de síndrome compartimental24-26 e lesões oculares27,28.

As fraturas são as lesões mais temidas por ciclistas e os segmentos que apresentam maior incidência de fraturas são: clavícula, costela e extremidade distal do rádio. A primeira e a segunda decorrem de trauma direto do ombro e tórax contra o solo e a terceira deve-se à tentativa de apoio no solo durante a queda. As principais fraturas estão listadas na Tabela 1. O retorno ao esporte após lesão como fraturas (e. g. clavícula) e rupturas ligamentares no ombro geralmente é demorado, tendo em vista a necessidade de atendimento médico especializado e submissão a um procedimento cirúrgico, seguida por reabilitação cinético-funcional após período de imobilização.  

Tabela 1. Sumário das principais fraturas em ciclistas




 “Le Fort”: nomenclatura referente à associação de mais uma fratura na face; P. Odontóide: processo odontóide; C. do Rádio: cabeça do rádio; E. D. Rádio: extremidade distal do rádio; R. S. I. Pubis: ramo superior e inferior do púbis; T. Isquiática: tuberosidade isquiática; *: colo do fêmur.

DISCUSSÃO

De todas as lesões agudas, as escoriações apresentam maior incidência, seguidas pelas lacerações, contusões e fraturas30,34, sendo os membros superiores os segmentos mais lesionados, seguidos pelos membros inferiores, face, cabeça, cervical e tronco34. As lesões que afetam a continuidade óssea ou articulação ocorrem com maior frequência em membros superiores2,13 e a traumatologia está relacionada ao reflexo de proteção durante a queda.

As lesões decorrentes de queda em sua maioria devem-se à passagem em valas e buracos, em especial os encobertos por poça de água, perda de tração e controle (tanto no cascalho quanto no asfalto), velocidade excessiva em curvas, falha mecânica, bem como à tentativa de evitar colisão com outro ciclista, carro ou objeto estacionário4-10. Segundo Mellion1 e Kronisch, Pfeiffer e Chow36 a manutenção do equipamento em perfeitas condições de uso pode reduzir a incidência das lesões decorrentes de falha mecânica, principalmente em pneus4,5,36, comum na modalidade downhill36, guidão36, garfo4, suspensão dianteira36 e freios4. Das lesões por queda, 40% ocorrem em declives4 e fatalidades no ciclismo perfazem aproximadamente 6,3% dos acidentes, frequentemente associado a lesões na cabeça, as quais apresentam incidência de 31% a 65%50.

ESCORIAÇÕES, LACERAÇÕES E CONTUSÕES

No ciclismo profissional a maioria das colisões em competições resultam em escoriações, contusões ou lacerações18,28,34,36,51, lesões que, em geral, não são graves o suficiente para impedirem que o ciclista complete a prova52. As escoriações são mais comuns em face lateral do tronco e dos membros superiores e inferiores17,25,53. O uso de luva protege o ciclista contra escoriações nas mãos em caso de queda53; todavia se o ciclista apóia com o cotovelo ao invés de utilizar as mãos, a bursa olecraniana pode se lesionar, levando ao edema e bursite52,54. A lesão da bursa pré-patelar por trauma direto do joelho contra o solo leva a face anterior do joelho a um edema significativo, contudo este mecanismo de trauma é incomum no ciclismo55,56.

Escoriações em áreas com proeminência óssea, como trocânter maior, tendem a ser profundas e mais graves, principalmente quando expõe o osso subjacente, condição cuja conduta médica deve priorizar o tratamento da osteomielite25. Os casos mais graves de escoriações, conhecidos por road rash, envolvem grandes superfícies corporais com lacerações profundas contaminadas por detritos com sinais de eritema e presença de exsudato2,17,40,53,55.

Os traumas em tornozelo e pé provocados pelo raio da roda1,30,57 estão relacionados à realização de ajustes mecânicos com a bicicleta em movimento1 ou acidentes envolvendo grupos de ciclistas que pedalam lado a lado. Este tipo de lesão decorre de uma entorse do tornozelo entre os raios da roda da bicicleta, gerando escoriações de gravidade variável, podendo acompanhar-se de perda de pele, exposição dos tecidos profundos, como tendão de Aquiles, além de fraturas e amputações2,58,59.

FRATURAS E LUXAÇÕES

O programa de treinamento dos ciclistas raramente incorpora exercícios de impacto. Paralelamente a esta característica, a demanda nutricional exigida pelo ciclismo profissional pode levar a um desequilíbrio de minerais essenciais, incluindo o cálcio, quando a dieta estabelecida pelo ciclista não é balanceada. Essa condição, combinada à inatividade quando não estão treinando com a bicicleta, pode predispor o ciclista profissional ao desenvolvimento precoce de osteopenia, expondo-o a um maior risco de fratura60,61. Além da baixa densidade óssea, o risco de fratura aumenta proporcionalmente ao aumento da velocidade de impacto em quedas.

Quando o ciclista sofre uma queda é natural tentar proteger-se e minimizar o impacto levando a mão espalmada ao solo, todavia a sobrecarga axial sobre o punho hiperestendido deixa o escafóide mais vulnerável à fratura ou luxação62,63. A falta de um diagnóstico precoce de fratura do escafóide por levar o osso à pseudoartrose e osteonecrose63. Por outro lado, apesar de incomum, outra disfunção que também pode decorrer da descarga de peso associado à velocidade de impacto das mãos ao solo durante a queda é a luxação posterior da articulação gleno-umeral34,36,39,53,64. A falta de apoio das mãos, como reflexo de proteção, leva o ciclista ao contato direto do ombro contra o solo, condição que favorece a luxação da articulação acromioclavicular e fratura da clavícula31,34,39,40,48,64,65. Taylor e Shakespeare37 relataram um caso de múltiplas fraturas em membro superior esquerdo de um ciclista que foi atingido por um carro. As lesões se resumem em fratura de metacarpo, capitato e fratura de Galeazzi associada à luxação do trapezóide.

Um dos resultados mais proeminentes no estudo de Scheiman et al.10 foi o elevado número de lesões devido à queda ao subir ou descer da bicicleta, causando mais de 40% de todas as fraturas de fêmur e pelve. Bass e Lovell33 descreveram a ocorrência de fratura acetabular em dois ciclistas após caírem sobre o membro inferior esquerdo, por não conseguiram desprender o pé

do pedal. Segundo Barnett32 quando um ciclista cai diretamente sobre o trocânter maior o acetábulo pode sofrer fratura, como resultado do impacto desta estrutura contra a cabeça do fêmur.

Callaghan e Jane47 descreveram uma lesão atípica em ciclista de montanha. De acordo com os autores um ciclista sofreu uma queda e fraturou a base do terceiro metatarso e luxou a articulação tarsometatarsiana (Lisfranc). O mecanismo de trauma proposto pelos autores consiste na flexão plantar associado à tentativa de se equilibrar sobre a bicicleta e evitar a queda, todavia o ante-pé foi o primeiro a bater no chão sofrendo uma compressão longitudinal.

Lesões na cabeça e face atualmente são menos graves devido ao aumento do uso de capacete, todavia, alguns ciclistas ainda negligenciarem o uso deste acessório justificando que o mesmo despenteia, aquece a cabeça e seja desconfortável50,51,66. A ventilação, peso50,66, conforto e designe são variáveis que atualmente têm sido tratadas com mais afinco pelos fabricantes, visto que atualmente os capacetes apresentam mais aberturas para favorecer a ventilação, juntamente com sistemas de suspensão para proporcionar o ajuste necessário à perimetria cefálica50, absorver a energia cinética e amortecer o impacto em caso de queda48. Ajustar o capacete adequadamente à cabeça é imprescindível, pois, caso contrário, o capacete pode sair da cabeça durante a queda67,68.

Lesões graves na cabeça representam a maior parte dos óbitos causada por acidente ciclístico2, e quando fatalidades relacionadas ao esporte são reportadas, é comum que um acidente envolvendo automóvel e ciclista seja a causa2,12. Se após queda o ciclista apresentar sintomas de confusão, tontura, diplopia, perda de consciência, sonolência excessiva ou cefaléia o mesmo deve ser prontamente avaliado2, pois estes sintomas podem representar concussão cerebral, contusão ou hematoma, condições que exigem atendimento médico emergencial2,8,30,51. Em acidente que envolve trauma em cabeça é fundamental proceder a estabilização da coluna cervical até que exames de imagem comprovem ausência de fratura craniana ou vertebral, pois este segmento da coluna é o que apresenta maior mobilidade e consequentemente maior risco de lesão2,16,40,53. De acordo com Kathrein et al.38 um ciclista de montanha sofreu uma queda e bateu a cabeça contra o solo, vindo a procurar atendimento médico no dia subsequente à queda em decorrência da cervicalgia e sangramento pelo nariz e boca. Ao exame o médico diagnosticou fratura do processo odontóide (fratura tipo II), que foi reduzida e estabilizada com dois parafusos. Segundo os autores, após o período de reabilitação o ciclista apresentou amplitude de movimento da coluna cervical preservada. Heyde et al.43 também relataram um caso de fratura em coluna cervical em um ciclista com espondilite anquilosante. Apesar de o ciclista ter sido submetido à cirurgia para reparação da lesão e fratura, foi a óbito dias depois em decorrência de complicações. Os autores sugeriram que ciclistas com espondilite anquilosante sejam cautelosos com a prática do esporte, pois estão mais sujeitos à lesão em coluna cervical em decorrência da osteoporose, rigidez e cifose. Apesar da alta susceptibilidade da coluna cervical à lesão, a literatura científica tem registrado apenas cinco casos de paraplegia em ciclistas de montanha decorrente de queda10,16.

Um estudo de McDermott69 com 1710 ciclistas revelou que a utilização de capacete reduziu o risco de traumatismos cranianos em 39% e o risco de lesão facial em 28%. A diferença entre a incidência de fraturas de crânio comparadas às fraturas de face sugere que os capacetes convencionais de ciclismo oferecem significativa proteção contra lesão cerebral, entretanto pouca proteção contra fraturas faciais6,9,13,48. A utilização de capacetes com protetor facial reduz a incidência de lesões faciais6,11,13 (e. g. fratura do arco e complexo zigomático), do osso nasal12,14 e Le Fort14. Relacionado à topografia do zigomático, Saito et al.70 descrevem um caso de luxação da bigorna após queda.

Um estudo realizado na Áustria (de 1991 a 1996) revelou que os acidentes ciclísticos representaram 31% de todos os acidentes relacionados ao esporte e 48,4% de todos os acidentes de trânsito11. De acordo com a pesquisa as lesões em sessenta ciclistas de montanha pouco se assemelharam estatisticamente com as apresentadas pelos quinhentos e dois ciclistas de estrada (road bikers): 55% contra 34,5% de fraturas faciais, 22% contra 50,8% de lesões dento-alveolares e 23% contra 14% lesões em tecidos moles. A fratura em terço médio de face dominante nos ciclistas de estrada foi do zigomático (30,8%), dado que coincide com

achados de Yamamoto et al.9, enquanto os ciclistas de montanha obtiveram 15,2% de fraturas Le Fort I, II e III. Fraturas do côndilo mandibular foi a mais frequente, representando de 10,8 a 50% dos casos de fratura em terço inferior de face11,13.

De acordo com Müller et al.15 5,7% (27/473) dos ciclistas participantes da pesquisa havia sofrido lesões dentárias traumáticas na prática esportiva. Por outro lado, 52% (246) tinham consciência do fato de que o dente avulsionado podia ser reimplantado; 6,3% (30) tinham conhecimento sobre o kit salvamento para o dente; 71,9% (340) estavam familiarizados com protetores bucais e apenas 4,4% (21) eram usuários de protetores bucais, o qual, a propósito, deve ser incentivado no ciclismo devido ao considerável risco de lesões orofaciais15.

 LESÕES VISCERAIS

As lesões em abdômen e tórax são incomuns e costumam ser graves2. O baço é o órgão que apresenta maior ocorrência de lesão em acidentes ciclísticos17,18, seguido pelo fígado, intestino delgado19 e rim18. Karbakhsh-Davari, Khaji e Salimi18 relataram a realização de nefrectomia e esplenectomia em ciclistas hospitalizados após acidente. Na região abdominal é comum a ocorrência de hematoma hepático após colisão contra o bar end65,71, acessório colocado nas extremidades do guidão, em bicicletas de montanha, com função de oferecer ao ciclista uma segunda opção para o posicionamento das mãos. De acordo com Nehoda et al.71 a ocorrência de lesão hepática em oito ciclistas austríacos motivou a realização de uma campanha local inibindo a utilização deste acessório. Os resultados observados após campanha mostraram significativa redução de lesão hepática. O’Connor et al.20 relataram um caso de pneumotórax em ciclista decorrente de luxação retroesternal da clavícula, lesão rara e potencialmente capaz de lesionar grandes vasos, traquéia, esôfago e pleura.

Trauma direto do guidão na região abdominal pode ocasionar ruptura da musculatura da parede abdominal e levar à herniação da alça intestinal72,73. Magrill e Paterson74 descreveram laceração em fígado e pâncreas em ciclista de montanha após ter sido atingido pela extremidade do guidão sobre a margem inferior da última costela, na região abdominal. Alvarez-Segui, Castello-Ponce e Verdu-Pascual75 relataram um caso de ruptura diafragmática seguida de morte. Segundo testemunhas o ciclista estava a uma velocidade de 20 a 30 km/h quando parou repentinamente e foi arremessado sobre a mesa (avanço) e guidão. Aos primeiros socorros por transeuntes, o ciclista estava dispnéico e, embora não apresentava lesões externas evidentes, foi a óbito antes da unidade de resgate chegar. A autópsia identificou escoriações nas palmas das mãos e duas contusões no joelho, sem sinal de traumatismo crânio-encefálico e de coluna cervical. Na cavidade torácica e abdominal observou-se ruptura do diafragma costal e do tendão central, estando, os pilares preservados. Como conseqüência desta ruptura, as vísceras abdominais projetaram-se à cavidade torácica ocasionando uma compressão cardiopulmonar. O esterno, costelas e demais vísceras torácicas e abdominais não apresentaram lesões75.

QUEIMADURA POR SOL

Lesões de pele são comuns em queda, mas as decorrentes de queimadura pelo sol1,29,53 acometem 5,4% dos ciclistas, segundo estudo realizado por Weiss29. Os lábios, ombros, braços e coxas são as superfícies do corpo mais sujeitas à queimadura29,76, tornando o uso de protetor solar imprescindível53,77. O uso de protetor labial deve ocorrer principalmente no lábio inferior pela maior exposição ao sol. Envelhecimento precoce da pele pode ser um problema para ciclistas que não se protegem contra os efeitos nocivos dos raios solares53. Apesar dos benefícios do protetor solar contra queimaduras, de acordo com Weiss29 o seu uso pode diminui a capacidade de evaporação do suor da superfície da pele, resultando em um aumento na temperatura corporal e diminuição do desempenho. Todavia, se o protetor solar for aplicado apenas em braços, coxas e lábios, o desempenho esportivo, aparentemente, não sofre redução significativa29.

Moehrle76 avaliou a exposição de atletas aos raios ultra-violetas. O estudo foi realizado usando um dosímetro biológico (filme com esporos de Bacillus subtilis) em triatletas que participaram do Ironman no Havaí, em 1999. Os atletas apresentaram queimaduras pelo sol, apesar do uso de filtros solares resistentes à água (FPS 25+). A proteção adequada por meio de uso de camisetas de manga longa, filtros solares resistentes à água, bem como realização de treinos e provas que evitam ao máximo a exposição ao sol é uma medida preventiva que deve ser tomada por atletas e organizadores do evento ciclísticos.

LESÃO VASCULAR

Sarfati et al.21 descreveram um caso de lesão da artéria femoral por trauma agudo no ciclismo decorrente de queda, ocasião na qual o ciclista se projetou à frente da bicicleta colidindo a região inguinal com a extremidade de guidão, posicionado perpendicular ao plano frontal do ciclista. Galosh et al.22 e De Rose et al.23 relataram os três casos de priapismo por lesão vascular decorrente por trauma agudo, dois por impacto contra o quadro da bicicleta (tubo superior) e um contra o guidão.

SÍNDROME COMPARTIMENTAL E LESÕES OCULARES

A síndrome compartimental é uma disfunção rara no ciclismo24-26,78 e acomete principalmente o compartimento posterior profundo26 e anterior da perna24,25 como resultado de traumas diretos com objetos ou por esforço intenso (exercício-induzido)26,79. O aumento da pressão intracompartimental é característica da disfunção e pode levar à isquemia24-26 e neuropraxia24,26. Dor, parestesia, cãibras, edema e fraqueza muscular são sinais e sintomas comuns26 e o diagnóstico é confirmado pela mensuração da pressão do compartimento em três etapas: antes do exercício (≥ 15 mmHg), a 1 (≥ 30 mmHg) e 5 minutos após o exercício (≥ 20 mmHg). A fasciotomia é o principal método para estabilização em casos de síndrome compartimental diagnosticada24,80,81.

Lesões oculares por corpo estranho - inseto, poeira ou cascalho - são incomuns no ciclismo17,27,28, pois o uso de óculos costuma não ser negligenciado2,17. Quando o olho é atingido por um corpo estranho, alojando-o, a visibilidade fica temporariamente comprometida53, porque o contato do corpo estranho com o olho desencadeia o reflexo córneo-palpebral, responsável pelo fechamento das pálpebras bilateralmente, reação que pode levar o ciclista a sofrer um acidente. O risco de acidentes desta natureza é maior em estradas de fazenda, onde a quantidade de insetos é maior, comparado ao meio urbano e rodovias53.

CONCLUSÃO

Apesar do ciclismo ser um esporte de muito baixo impacto não é raro a ocorrência de lesões agudas, de gravidade variável, geralmente resultante de quedas. Todavia, medidas preventivas como controle da velocidade e não negligenciar o risco de queda, principalmente em percursos desconhecidos, pode ser útil em evitar acidentes. A evidência científica de que o capacete protege a cabeça e face de lesões mais graves está atualmente bem esclarecida, razão pela qual tem aumentado o número de usuário deste equipamento de segurança. Apesar da proteção oferecida pelo capacete a incidência de lesão em face não tem sido reduzida na mesma proporção dos traumatismos cranianos, pois os capacetes geralmente não oferecem proteção para terço médio e inferior de face.

 

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