segunda-feira, 1 de abril de 2013

CAPE EPIC 2013

Por Henrique Werneck

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VICTOR COSTA28.03.2013 20h21m

“Difícil começar a falar do desafio mais difícil que passei na minha vida esportiva. Minha ‘carreira’ esportiva se intensificou mais em outubro de 2010 quando entrei na Walter Tuche Assessoria Esportiva. Até então havia participado de uma maratona em 2005, uma meia maratona no mesmo ano e a Volta a Ilha (Florianópolis) em 2003. Essas competições todas sem nenhum acompanhamento profissional. Somente com os treinamentos para manter a forma.

Procurei ajuda da assessoria, pois queria fazer o Ironman Brasil de 2011. Nunca tinha feito um triatlo sequer, mas tinha esse sonho. No caminho do Iron, realizei diversas corridas de rua, travessias aquáticas e um triátlon olímpico. Passada a competição principal, tomei gosto verdadeiro pela coisa e fiz dos treinamentos um novo modo de viver. Realmente encontrei o que queria e precisava para minha vida. Veio Pirassununga, Caiobá, Xterra, Big Biker, uma ultramaratona de 50k offroad, 70.3 Miami entre outras provas. Assim mesmo sem foco, mudando a modalidade, o que sempre busquei foram desafios diferentes.
No segundo semestre de 2012 meu amigo David Klabin me convidou para ser seu parceiro no Cape Epic. No final de 2012 começamos os treinos na terra juntos. Seria muito importante nos conhecermos melhor e saber os pontos fracos e fortes de cada um. Coisa que foi acontecendo fim de semana a fim de semana que conseguíamos treinar juntos, e foram vários! Treinos de 4, 5, 6 e até 7 horas por dia. Teve uma semana que cheguei a treinar 500km com 17000 de ascensão acumulada.

Nunca fico apreensivo com competições e essa não foi diferente. Fiz minha parte, treinei duro. Sabia que podia ter êxito se tivesse sorte em não quebrar a bike e também não me machucar e algum tombo. Também tinha muita confiança no meu parceiro. Ele sempre andou mais forte que eu nos treinos. E isso se repetiu na prova. David tava um monstro!

Chegamos em Cape Town (Cidade do Cabo, em português), na África do Sul, com 4 dias de antecedência para prova. La são 5 horas de diferença pro Brasil. Não tive nenhum problema com isso e no dia seguinte já estava dentro do fuso. Já o David não aconteceu a mesma coisa e ainda veio um resfriado que teimou em ficar até o prólogo.



A estrutura e staff da prova é de primeiro mundo. Check in feito na véspera da prova partimos pro lugar da largada que ficava a menos de uma hora de Cape Town, em Meerendal Wine State. Os atletas ficam alocados em tendas nos campings super organizadas nos locais da competição. Uma super estrutura é montada para atender os atletas. Alem das tendas individuais para dormir, tem as tendas de alimentação, tendas dos ‘riders’ para descanso com espreguiçadeiras, sofás e pufs, banheiras de gelo e massagem, tendas com TVs e computadores, tendas das marcas e oficinas de bicicletas, tendas com roupas e produtos alimentícios etc...

Um circuito de 23kms com 700mts de subida. Um visual incrível que mesclava subidas com partes técnicas, descidas rápidas em cascalhos soltos fizeram as primeiras vitimas. Ali deu pra perceber que nada seria fácil nos próximos 7 dias. O calor já era bastante ao contrario do frio que fazia ao acordar. Os extremos no mesmo dia. E assim foi até o último.

O primeiro dia real de competição, Stage 1 em Citrusdal, foi violento! Entre os competidores no dia seguinte, alguns com vários Capes nas costas, se escutava dizer que foi um dos piores percursos já realizados. Pra mim e pro David não foi difícil acreditar! Fizemos essa etapa em 8h40m. Muitos trechos com areia fofa e subidas íngremes intermináveis fizeram vários pelotões de bikes sendo empurradas... Ali muita gente já ficou pelo caminho. O desgaste foi enorme.

No dia seguinte já era o estagio mais longo da competição: 145kms com 2350 de subida. Apesar do dia anterior, estávamos bem. Nosso plano era completar o Cape sem se importar com o tempo. Era dia após dia sem pensar muito pra frente. Assim foi até o Stage 7.

Em uma maratona como essa, o tempo livre passa muito rápido. Mas isso não impediu de fazermos uma grande amizade com a dupla mineira Thiago e Felipe. Dois caras que ajudaram muito a gente durante a competição. Experiente e muito brutos no pedal, terminaram em 106 geral e 68 na categoria. Foi a segunda melhor dupla brasileira ficando somente atrás do Abrãao Azevedo que ganhou na categoria Master e ficou em 11º no Geral, um monstro que formou dupla com o sulafricano Nico Pfitzenmaier.
 
 
Dia após dia foi passando. Estagio a estagio. Apesar de nenhuma dor muscular e nenhum tombo sofrido, a posição na bike e a lombar iam ficando prejudicadas. Parece incrível mas tive a impressão de ir ficando mais forte com o passar das etapas. Isso aconteceu até o 70km do 6° estagio. Nesse dia eram 100km com 3000 de subida acumulada. Vinha bem nesse dia e de repente minha força acabou. Parecia carro sem gasolina. Não tinha dor! Tinha comido e bebido bem!! Não entendia o porque daquilo! As subidas eram no pratinho e no sufoco. Rezava pra chegar logo no próximo ponto de hidratação. Eram sempre 3 pontos por dia. Faltava o último daquele estagio. Me arrastei ate la. David queria que eu fosse no médico, sentasse, esfriasse... Pensei justamente o contrario. Fiz tudo correndo, me hidratei, comi, me abasteci da melhor maneira que dava, sabia que se eu esfriasse poderia ser meu fim. Seria difícil reaquecer e completar os vinte tantos quilômetros finais. Subi na bike e uma sensação estranha tomou conta de mim. Não conseguia me mexer. Pensava em tudo. O porquê de estar ali. Na família, na namorada. Os amigos! As pessoas que nem conheço e mesmo assim me davam força todos os dia pelas redes sociais. Aquilo me fez chorar.. Nessa hora David me mostrou a razão dessa prova ser em dupla. Falou tudo que eu precisava escutar. Fomos em frente e fui voltando aos poucos ate chegar a linha de chegada. Depois disso já me sentia com a medalha no peito. Já havia entendido o significado da prova.

Mas ainda faltava um dia!!! Sim, o grande dia! Seria o estagio mais curto da prova. Uma espécie de gratificação por ter chegado ate ali. 54km com 1500 de subida. Foram mais 3h50m de mountain bike.
Foi uma etapa de reflexão e por minha parte um pouco de apreensão por causa do dia anterior. Será que sentiria aquilo de novo? Fiquei pensando em tudo que havia visto naqueles oito dias de competição. Nos incríveis visuais que passamos, nas pessoas que conhecemos, na oportunidade enorme que estava tendo ali. Estava feliz de verdade. Foi uma prova muito dura. Trechos difíceis e muito técnicos. Descidas em pedras e cascalhos a 60km/h. Muitos riscos e graças a Deus sorte por ter voltado inteiro pra casa.

Nada na vida de faz sozinho. Em um mundo cada vez mais egoísta, onde o ser humano cada vez mais desrespeita o próximo e seu meio ambiente, 50hs de mountain bike me ajudaram bastante a pensar em muitas coisas. Fico muito feliz em saber que um amigo fez uma prova por minha causa ou que completou um objetivo inspirado nas minhas realizações pessoais. Essa troca que vale a pena! É por isso que estamos aqui!

Gostaria de agradecer a minha família e amigos, a todas as pessoas que sofreram e torceram por mim e em especial ao Walter Tuche, Dudu Gomes, galera da Assessoria, Gatorade, 3Shop, Henrique Polar Frequencimetro, Pedro Monteiro e pessoal da Effect Sport, Bernardo Fonseca, Robertinho Catão, Claudio Kligerman e familia, Galt Capital. David Klabin, conte comigo para o que precisar parceiro!
Henrique Werneck"

 

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