quinta-feira, 26 de julho de 2012

PEDIVELAS COMPACTOS

Hudson Malta/www.bikebros.com.br

http://www.bikebros.com.br/detalhe.asp?codigo=273&canal=TechTalk

Nos últimos anos, O ciclismo foi um dos esportes que mais evoluiu tecnicamente. Além do

surgimento de novas modalidades, pudemos acompanhar também o avanço tecnológico

em todos os segmentos do esporte, princpalmente na indústria e no treinamento. Muitos

conceitos do passado, tidos como dogmas imutáveis do esporte, deram lugar a idéias

inovadoras e eficazes, trazendo vantagens tanto para praticantes amadores como

profissionais.

Uma dessas mudanças atingiu em cheio as modalidades de estrada, e teve provável início

em 2004, quando o ciclista espanhol Roberto Heras resolveu encarar as duras subidas da

Vuelta a España daquele ano (algumas a 28% de gradiente!) usando uma relação reduzida

de marchas, com coroas menores. Sem saber, ele estava derrubando um tabu que durara

décadas, onde era imperativo que as relações de estrada fossem mais pesadas. Seu

sucesso nas montanhas da competição abriu o caminho para uma grande mudança na

forma de pensar sobre o uso da força produzida pelo ciclista. Técnicos começaram a

perceber que o giro era mais importante do que se imaginava.


Nao dá para saber se tudo realmente começou ali, mas o fato ajudou bastante. Logo, a

indústria já estava desenvolvendo um sistema que pudesse ofereer as vantagens do giro

mais elevado, onde o ciclista consegue manter uma cadência de rotações do pedivela

muito mas confortável e eficiente, sem o desgaste muscular exigido pelo pedalar lento e

pesado das marchas longas. Para isso, foi necessário alterar as dimensões do pedivela,

diminuindo o tamanho dos braços de fixação das coroas para que fosse possível utilizar

pratos menores.


O que é BCD?

Esta sigla significa Bolt Circle Diameter, e se refere ao diâmetro do círclo formado pelos

parafusos de fixação das coroas. Por muito tempo este padrão foi de 130mm, utilizado por

todos os fabricantes (exceto pela Campagnolo, que estabeleceu um padrão próprio de

135mm). Este formato não permite o uso de coroas com menos de 39 dentes, e para que o

novo conceito de coroas compactas pudesse "vingar", as fábricas resolveram adotar o

formato utilizado nos antigos pedivelas para mountain bike: 110mm. Com um BCD

reduzido, coroas menores (de até 34 dentes no prato interno e 50 dentes no prato externo)

passaram a estar disponíveis, dando ao ciclista muito mais opções nas relações curtas. E

simples mortais como nós passaram a subir serras com muito mais desenvoltura e menos

cansaço.


Na prática, o que acontece?


O uso de coroas menores aumenta as opções nas relações de força, enquanto diminui as

opções de velocidades mais altas, considerando que o conjunto de pinhões e o giro (RPM)

do pedivela permaneça o mesmo. Com o uso de coroas compactas o ciclista possui um

leque de opções maior na faixa mais alta do cassete, e pode encaixaar um giro mais

adequado (mais alto) ao seu nível de performance. Em contrapartida, ele perderá

velocidade nas relações mais baixas. Com a alteraçao do cassete, esta perda pode ser

minimizada, ou até mesmo eliminada. A combinação certa de coroas compactas e cassetes

pode dar ao ciclista o melhor de dois mundos: giro e força nas relações altas, velocidade

nas relações baixas. Já é comum ver, nos pelotóes profissionais, o uso de cassetes 11-28

com pedivelas 36-52, chamados de "mid-compact". Isso oferece uma faixa muito extensa

de possibilidades ao ciclista.


Analisando matematicamente


Tudo tem a ver com a razão de multiplicação de força entre coroa e pinhão. Considerando

o giro no pedivela de 90RPM, pneus 700x23 com 210cm de circunferância e um cassete

padrão de 12-25 dentes e 10 velocidades, vamos ver as velocidades máximas atingidas por

cada sistema:





A fórmula utilizada é essa:

VM = ((((CR/PN) * CP) * RPM ) 60)/100



Onde:

VM = Velocidade máxima alcançada

CR = Número de dentes da coroa

PN = Número de dentes do pinhão

CP = Circunferência do pneu

RPM = Rotações do pedivela


Como podemos ver, a diferença é pequena entre as velocidades dos dois sistemas, exceto

nos extremos. Mas percebe-se um ganho de 13 a 15% no giro em sistemas compactos,

comparando com relacões parecidas no sistema tradicional. Se considerarmos o aumento

de flexibilidade no giro dos pedivelas compactos, fica fácil perceber que um ciclista poderá

atingir certas velocdades com menos esforço ao se manter em uma faixa de giro mais

eficiente. Dessa forma, ao invés de você enfrentar aquela serra com uma pedalada

"pesada" de 50 ou 60 RPM, poderá subir mais solto a 90 ou 100 RMP com menor

sobrecarga muscular, mantendo a mesma velocidade.


Compacto serve pra mim?


Depende. Servirá muito bem você...

 - pedala regularmente por regiões com muitas variações de elevação, como serras

- compete em regiões montanhosas

- gira solto e não se habitua a giros pesados em subidas

- usa pedivelas menores (172,5mm ou menos), que naturalmente favorecem giros mais altos

- não está bem condicionado fisicamente

- é obcecado por redução de peso na bike

- é cicloturista e viaja com a bike de speed


Mas pode ser que não sirva se você...

- participa de provas de circuito em terreno plano

- pedala regularmente em regiões sem ganhos de elevação

- possui um estilo mais "trancado" de pedalar, e se sente bem com isso

- possui excelente condicionamento para subir serras em relações pesadas

- é sprinter

O sistema compacto veio para ficar, sendo totalmente aceito pela indústria e presente em

um número cda vez maior de bikes novas. A decisão de utilizar ou não cabe apenas ao

ciclista, que precisa ver este sistema como mais uma opção em um ambiente que era

hermético até pouco tempo: o ciclismo de estrada. Certamente ajudará muita gente, e

podemos esperar por mais novidades futuramente.


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