quarta-feira, 23 de junho de 2010

RELATO DA PROVA DA CLARO - POR NIKOLAS PEREIRA

Todos nós ficamos empolgados quando surgiu a notícia que a Copa Claro 100K

ia acontecer. Ainda mais contentes, quando convocaram assessorias de todo o
país para participar e prestigiar o evento. Sabíamos que o percurso era perigoso,
porém decidimos participar com a sensação que não poderíamos ficar de fora
de um evento desta magnitude dentro do esporte que tanto amamos.

Olhando para trás, sinto um arrependimento por ter me deixado levar. Qualquer
emoção que eu tive da competição e da disputa, foi por água abaixo quando vi
meu amigo e parceiro de treino, estatelado, de cara no chão, sem se mexer. Meu estômago
embrulhou, andava de um lado para o outro sem saber o que fazer e sem saber
a gravidade dos ferimentos dele, tive vontade de partir minha bicicleta ao meio de tanta raiva que fiquei naquele momento, pois no fundo sabia que algo daquele tipo podia acontecer, como aconteceu com muitas pessoas durante a prova.
Só não queria que fosse com alguém conhecido.
Sabemos que nesse esporte, mais cedo ou mais tarde estaremos sujeito a um tombo
ou acidente. Mas não somos profissionais, e mesmo os profissionais não se sujeitam
ou pensam duas vezes antes de desafiar um percurso perigoso. Vide Giro d`Italia 2009
quando os corredores fizeram protestos durante a etapa número nove em Milão. Devido a perigos
no percurso, mais da metade da etapa foi neutralizada e decidiram não computar
os tempos para classificação geral. Dito isto, a escolha do percurso da Claro 100K Rio
de Janeiro foi no mínimo, irresponsável. Olhos de gato, tachões, muretas, ciclistas inexperientes,
ciclistas experientes demais, pessoas atravessando a pista, trânsito de carros, faixa estreita
para rolagem do pelotão ... posso continuar listando. Achava que a escolha do percurso havia
sido feita devido à falta de outra possibilidade. Quando soube, hoje, que a Avenida das Américas
havia sido disponibilizada, só me resta concluir que há algo de errado com a organização de uma prova
que define um percurso privilegiando exposição e projeção da mesma em detrimento da segurança
de seus participantes.

Reconheço que um grande espetáculo foi montado, com uma grande estrutura, mas por 130 a 150 reais
por inscrição, acho que poderiam ter usado "um composto de ainda mais alta tecnologia" (como
divulgado no site: http://www.claro100k.com.br/site/noticia-no_percurso_so_obstaculos_naturais)
para cobrir os tachões, contratado ambulâncias em melhor estado e etc.

O Gilherme mencionou no e-mail dele que percebeu uma confusão com as macas. Eu presenciei e posso
esclarecer o ocorrido. Após tomarem os cuidados necessários, fazerem uma breve checagem do estado
dele, os paramédicos o colocaram na maca. Até esse ponto não posso atestar se o procedimento foi
correto, pois não o conheço, mas pareciam estar tratando-o com cautela, porém de forma meio desajeitada.
Após colocá-lo na maca tentaram empurrá-la para dentro da ambulância, com a cabeça do acidentado
apontando para dentro da carroceria. Depois de três tentativas e a maca se recusando a dobrar as pernas
para entrar, perceberam que ela estava ao contrário, então tiveram que ! girar ! o corpo do Guilherme para
poderem embarcá-lo no veículo de forma correta.

Com o passar do tempo e com a perspectiva de que meu amigo não havia sofrido nenhum ferimento
mais grave, pude aproveitar o que restava do evento. Muito bom ver todos se divertindo e
confraternizando, apesar de tudo. Podemos ver o quão grande e unido nosso grupo é, e quanto
peso ele tem dentro do cenário do ciclismo carioca, independente de resultados e médias de velocidade,
porque no fundo os maiores resultados estão dentro de nós. Resumindo, foi um grande evento, mas
que para mim teve um gosto amargo e foi marcado por medo e apreensão. Só eu, presenciei três quedas
e quase fui coadjuvante em uma delas, logo nos primeiros quilômetros. Soube de pelo menos mais cinco
quedas, inclusive da Daniela Genovesi, que aparentemente quebrou a clavícula. Melhoras para ela, espero
que esteja bem. Passados dois dias e sabendo que os ferimentos do Guilherme são apenas os nossos conhecidos ralados de asfalto, fico mais tranquilo e torço para uma melhora rápida e saudável, e consigo olhar com olhos mais amenos para o ocorrido. Mas devo tomar cuidado para não ser menos severo nas minhas avaliações.

acho que os acontecimentos devem servir de lição tanto para organizadores quanto para atletas.
Espero que os organizadores olhem para os fatos com um olhar humilde, atento e de seriedade, e
que acolham as críticas que foram feitas, para que erros não se repitam em provas futuras, pois
uma prova desse porte, em teoria, só teria a acrescentar ao ciclismo de estrada e espero que continue
no calendário anual. Quanto a nós atletas, não podemos esquecer que também fazemos parte da equação,
e que às vezes, a prudência deve superar a ânsia e o entusiasmo de participar de provas como essa
quando julgamos perigosa ou com uma organização que deixe a desejar. Como o Walter bem colocou,
formamos 10% do contingente da prova. Isso daria margem a uma contestação perante a organização
do evento em relação aos termos da realização. Como último recurso, sempre teremos a opção de não participar,porém somos mais fortes como grupo.

Espero que não tenha havido nenhuma outra queda mais séria e que aqueles que se acidentaram
estejam bem, se recuperando e que voltem para suas bikes o mais rápido possível. No mais o
que exteriorizei nesse e-mail é minha opinião e visão pessoal do evento e do ocorrido.

Abraços a todos.

Níkolas Pereira

12 comentários:

Anônimo disse...

Nikolas e todos, eu fui um dos que caiu e tive sorte de não ter me machucado mais seriamente.
Escrevi pro Walter que dada a minha inexperiência no meio, minha avaliação poderia ser imprecisa e ingênua, mas achei uma loucura aquele pedal na reserva. Experiência e sabedoria certamente ainda me faltam.
Sim, somos carentes de provas aqui na cidade e por isso todos ficamos empolgados quando ficamos sabendo da organização dessas provas aqui na cidade. Mas, precisamos conversar mais entre nós para não cairmos (sem trocadilhos) neste tipo de prova irresponsável.

Unknown disse...

Nicolas....gostaria de fazer minhas as suas palavras...fiquei dois dias de ressaca por tudo que vi....não vou etrar em detalhes, e só fiquei menos impressionado quando encontrei o Guilherme tocando sua vida apesar de seus machucados....acho que a reflexão é válida para todos.

paulo albuquerque disse...

Totalmente inrresponsável este tipo de prova, prometeram segurança e o que vimos foi exatamente o contrário,podio ter sido pior o desfecho mostrar que no Brasil precisamos aprender muito a fazer um evento desse porte.Atleta envolvidos no evento na organização também tem sua parcela de culpa.

Lucas disse...

Pois é... nós da Trilopez ficamos todos muito preocupados com o que aconteceu com o Guilherme. Minutos antes da queda dele, ele conversava com o Daniel, nosso treinador, no grupeto em que estávamos.
Concordo plenamente com as reclamacões que foram colocadas no relato.
Na segunda mesmo, enviei minhas reclamacões para a organizacão da prova. Saber que havia um percurso melhor liberado para a organizacão me deixa ainda mais indignado.
Três da nossa escuderia cairam num acidente logo no comeco da prova e eu acabei com o canote quebrado numa das várias faixas de paralelepípedos. Gracas a deus ninguém se machucou com gravidade.

Melhoras para o Guilherme e boa sorte a todos!!

[]s
Lucas
Escuderia Trilopez

Pedro Roncisvalle disse...

Perfeito o relato do Nikolas! Com menos de 3 minutos de prova ocorreu a primeira queda, vários ciclistas caídos, inclusive eu. Sorte não ter me machucado, apenas um tubular foi para o lixo.
Faltou uma sinalização melhor sobre o início da faixa estreita e dos obstáculos.

Luis Porto disse...

Nikolas,

Eu fui um dos ciclistas que se envolveu no acidente do início da prova ( nos primeiros 3km), não consegui frear a tempo e me embolei com outro ciclista, caí bem perto daquela mureta de concreto... por sorte, nada de grave aconteceu e segui na prova.

Realmente foi chocante ver seu companheiro naquele estado... quando desviei da ambulância não poderia ter visto uma cena pior. Aquilo tb me embrulhou o estômago e sinceramente, me fez questionar se continuaria na prova. Optei por continuar, diminui sim o ritmo e preservei minha segurança pessoal. Afinal, como vc disse, não somos profissionais... é nossa OBRIGAÇÃO zelar pela própria segurança ( já que a organização não o fez).

Sobre a organização... realmente é triste saber que a escolha foi pelo visual em detrimento de nossa segurança... sem TODOS NÓS ( atletas ) a prova JAMAIS existiria, eles deveriam pensar nisso.

Espero que o Guilherme volte o quanto antes e com saúde, que esse evento conturbado e irresponsável sirva de lição para nós mesmos ao avaliar nossa participação em corridas de ciclismo. Com a atitude da organização ( apagando tópicos de críticas no FACEBOOK, por exemplo) o esporte só tem a perder.

Um abraço,
Luís Porto
Escuderia TRILOPEZ

Planet Assessoria disse...

Olá, Recebi o link de vocês através do aluno (meu amigo) Nuno. Fico feliz que os envolvidos estejam bem.

No dia anterior eu que sou de São Paulo fui reconhecer o circuito e logo vi o estreitamento e aquele mundaréu de tachinhas.... logo avisei aos que conhecia para que ficassem longe da mureta pois certamente haveria queda. Agora penso: Se eu que não sou organizador já lgo pensei e tive certeza de que haveria queda, como que o "Responsável" pela prova não o fez?
Temos que nos lembrar que está é uma prova para amadores como nós, que somos apaixonados por bike e vamos lá para nos divertir.Muitos estão fazendo sua primeira prova e não são obrigados a saber tudo portanto a chance de errarem algo é maior.

Vamos nos manter organizados e tentar fazer com que isso não ocorra mais uma vez.

Também tivemos um tubular furado e uma roda amassada.

Equipe Planet
Igor Laguens
www.igorbikefit.wordpress.com
igorlaguens@hotmail.com

Guilherme Behrens disse...

Isso ai Nikolas, temos que estar sempre atentos a saber avaliar riscos excessivos e nao aceitar nos expor a eles. Obrigado a vc, amigão, ao Walter, e a todos nossos amigos e companheiros de treinos, por todo o apoio. Eh um grande prazer e orgulho fazer parte deste que eh acima de tudo um grande time de amigos, isnpirados pelo grande Walter q nos une e incentiva. Busto de bronze j'a !!(e sem pombos)
Obrigado tb pelas mensagens a Trilopes, Planet e outros parceiros de prova que compartilham o mesmo amor pelo ciclismo e o esporte. Juntos torcemos para que mais grandes provas surjam e se firmem no calendario nacional, mas que sempre tenham como foco principal a seguranca de todos os envolvidos!
Grande abraco a todos e fiquem com Deus!

Walter Tuche disse...

apos ler esses comentarios, pude observar que apesar do ocorrido, tivemos um grande lucro nessa prova. Os comentarios postados por nossos alunos e pelas outras Assessorias, no faz ver que estamos no caminho certo. Adversarios no asfalto, na prova, mas solidarios na vida em torno de uma coisa (bicicleta) que nos une. Obrigado Luis Porto, Lucas, Igor e a todos nossos A L m U i N g OS

Fatima Freitas disse...

Nikolas,
Apos a leitura do seu desabafo, fiquei pensando......
Como é bom ter vcs por perto!!

Guilherme,
Estou torcendo para nos encontrarmos no pelote o mais rapido possivel.

Bjos
Fatima Freitas

Torrentes disse...

Boa Nikolas!

Mas confesso que fiquei mais irritado do que você com as condições da prova. Parei com uns 6km, quando a pessoa que puxava o pelote em que eu estava caiu, derrubando mais 06. Por sorte não caí.

Contudo, espero que haja uma nova prova aqui no RJ, onde tenhamos condições de nos divertir.

Abs e melhoras aos acidentados.

Unknown disse...

Depois de ler os comentários aqui presentes, fico feliz de saber que vcs partilham do meu ponto de vista. Sempre foi e sempre será um prazer treinar com vcs.

Ao pessoal das escuderias Planet e Trilopez, obrigado pelo apoio e melhoras para aqueles de vcs que se acidentaram.

Abraços