Ironman
World Championship
Tudo quieto... vazio... com alguns poucos atletas treinando. Conforme os dias passavam a cidade se modificava: novas barracas apareciam, empresas montando seus estandes, atletas surgindo de todo lado e Kona ia se vestindo aos poucos. Participar da prova eh uma experiencia unica, mas chegar antes, treinar por la, conhecer gente do mundo inteiro, ver a cidade se transformar e participar das comemoracoes que antecedem o grande dia eh inesquecivel.
Muitas
pessoas brincam comigo dizendo que em toda oportunidade que tenho, falo do meu
tecnico. Mas como ser diferente , meu Deus...? Como conseguiria sem ele? Somos
uma dupla, unimos nossas forcas em busca do mesmo objetivo e assim conseguimos
vencer. Em Floripa nao fui eu que venci...fomos nos 2. A vaga pro Mundial era
nossa e nao minha. Por esta razao nao poderia estar la, fazer a prova sem que
ele estivesse ali, me seguindo com os olhos, com o coracao, me incentivando,
saboreando a nossa vitoria e me dando forca mais uma vez. Tenho muito orgulho
de pertencer a essa assessoria e vestir a nossa camisa... e sempre sera assim.
13
outubro 2012
Depois
de abracar muito o Walter, a Marcinha e o Lauro, fui pra linha de largada
tranquila, extremamente feliz e pronta para me divertir durante o dia que se
iniciava. Sabia exatamente oq queria daquela prova: comemorar todo o nosso
caminho ate aqui. Sol nascendo, touca na cabeca, numeros tatuados nos
bracos e roupinha do WT embaixo do swimsuit. Uma banda de percurssionistas
hawaianos ditava o ritmo da festa....era contagiante... e apos ouvirmos
o Hino dos EUA cantado a capela, largaram os PROS e 30 minutos depois
fomos nos. O mar eh quentinho, cristalino, cheio de peixinhos... azul
demais e a calmaria do fundo se contrasta com a agitacao da superficie: uma
batecao danada de braco do inicio ao fim.
Sai
da agua bem e fui logo fazer a transicao. Tudo muito organizado, nao tive
nenhum problema pra achar a sacola e me preparar para a bike.
No
pedal, os 20 km iniciais sao girados numa rodovia mais estreita. Depois pegamos
a estrada propriamente dita que nos leva em direcao a Hawi, 80km pra la e 80 km
pra ca. No inicio nao ventava muito e tive a impressao que seria relativamente
facil, mas quando entrei na estrada entendi porque o vento de Kona eh tao
temido pelos triatletas. O vendaval vulcanico que sopra por la eh
indescritivel, muda de direcao toda hora, vem por todos os lados com uma forca
descomunal. Cheguei a pedalar em pe em algumas descidas... e eh quente... muito
quente. No km 30 meu pneu estourou.. acho que foi pelo calor mesmo, pois o
asfalto era lisinho e sem buracos. Pensei que fosse cair e quebrar a roda, mas
felizmente consegui controlar a bike e ir pro acostamento. Troquei o pneu
com toda a calma do mundo...fazer uma prova sem compromissos com tempos e
resultados eh bom demais. Claro que ninguem quer e gosta de furar, ainda mais
num mundial, mas isso so acontece com quem pedala, entao estava correndo esse
risco tambem. Pneu trocado, montei na bike.... e decidi que nao lutaria contra
aquele lugar... nao estava ali para vencer Kona e sim para me integrar a ela,
para respeitar a sua forca e sua natureza. E se Kona estava me presenteando com
aquele vento todo eu iria aproveitar da melhor maneira possivel.
Quando
entreguei a bike para fazer a transicao, minhas pernas estavam soltinhas,
inteiras...e soube que faria uma boa corrida. E assim foi. Corri bem, molhando
a cabeca toda hora, enchendo minha roupa de gelo e aproveitando os esguichos
d'agua que o publico jogava em nos. Sim... estava muito quente. Precisei ir ao
banheiro algumas vezes e andei em todas as que me alimentei. Quando fiz a volta
no Energy Lab faltavam 11 km.... estava me sentindo otima e so pensava em
chegar, passar no portico, encontrar a Marcinha, o Lauro e abracar o coach mais
uma vez. E chorar... foi muito emocionante.. acelerei tanto que nem percebi o
quanto eh legal ralentar e curtir aqueles segundinhos embaixo do
portico...rsrsrs
Antes
da prova recebemos varios emails da organizacao dizendo que os atletas
deixariam sua marca na historia,... que deixariamos nosso nome em Kona e
blablabla.... Mas na verdade nao eh nada disso.... Nao somos nos que deixamos
alguma coisa la... Kona eh que deixa a sua marca em nos... Toda a energia, os
dias de felicidade, a alegria e orgulho que sentimos em estar ali ficam
gravados para sempre em nossa alma. E talvez por isso Kona seja tao
inesquecivel.
Recebi
milhares de mensagens de apoio e carinho dos meus amigos...antes, durante e
depois ...e essa foi uma das partes mais gostosas da prova: me sentir querida e
abracada por todos vcs. O Bruno Catappan me mandou uma mensagem linda dizendo
que a cada passo dado por mim pelo menos 1 laranjinha estaria la comigo e foi
exatamente isso que senti. Nao fiz a prova sozinha hora nenhuma, estava em
transe, em extase, pensando em todos, extremamente feliz por representar nossa
Assessoria em terras Hawaianas.
Mais uma vez agradeco a vcs, amigos queridos, e ao meu coach, por fazerem parte da minha vida de uma maneira tao especial...
Nunca
havia sonhado em fazer thriatlon, muito menos um ironman, quanto mais ir pro
Mundial no Hawaii. Meus sonhos sempre foram vestindo sapatilhas e rodopiando
por palcos do mundo inteiro. Mas a vida eh engracada e nos mostra caminhos
diferentes a todo instante...e cabe a nos segui-los ou nao. Minhas
sapatilhas se transformaram em tenis, minha sensacao de liberdade antes
experimentada nas piruetas agora eh sentida sobre a bike e meus momentos de
introspeccao sao vividos debaixo d'agua... e essa sou eu...e assim eu sou
enormemente feliz.