quarta-feira, 29 de agosto de 2012

70.3 da Austria, e pra quem achou que ia ser fácil.....

Por Miguel Lasalvia
 
"Querido Coach,
Conforme planejado com muita antecedência, marquei minha chegada para a prova com 12 dias dela para poder treinar um pouco nos trajetos previstos. Tete chegou 5 dias antes da prova, pois alguém tem que trabalhar na família.
O lugar é um paraíso, uma cidade no meio de 4 montanhas que chegam a 3.800m, com lago de 3,8km de cumprimento com 1,0km de largura e 14km de perímetro, sendo a água potável e onde eu frequento desde os 15 anos de idade. Você pode praticar todos os esportes imagináveis, o ano inteiro. No final de semana anterior da prova, teve um campeonato europeu de parapente, com mais de 600 pilotos voando juntos.
Nos 10 dias que antecederam a prova, fez um calor descomunal chegando a 38C de dia e caindo para 13C de noite. Mantive nosso planejamento de pedal, corrida e natação, sempre preocupado com a lesão da virilha que aconteceu na Maratona do Rio.
No sábado quando fomos fazer o check in das bikes, o tempo começou a mudar e de noite, por volta das 22h o mundo desabou de tanta água que caía. Chegamos a pensar que seria melhor assim, pois no domingo ficaria mais seco.
No dia da prova, largada marcada para 10h, área de transição aberta entre 8 e 9:30 para os últimos ajustes da bike, alimentação e hidratação. Chegamos lá com 13ºC e neve nas montanhas acima de 2.000m, resultado da tempestade da noite anterior. Todo o material perfeitamente protegido, sem uma gota d’água, independente do dilúvio que caíra de noite. O céu carregado, mas sem chuva, dava ideia de ficar seco durante a prova.
A largada da prova aconteceu pontualmente 10h, com 3 ondas de 5’ e 20’ de diferença e a famosa e arrepiante contagem regressiva familiar das provas internacionais do Ironman. Lago sem correnteza, mas com muita marola dos 1800 atletas juntos na água. Muito caça foice dentro d’água dando pernada, soco e nadando de peito. Passei muita gente na prova, fechando em 31’30”, quando tinha programado fazer em 30’.
A transição era num campo de futebol, sem auxílio para tirar a roupa de borracha nem para localização e retirada da bike. Para sair para o pedal, tínhamos que dar a volta olímpica no campo. Resultou em um T1 e T2 no dobro do previsto, com 7’21” e 4’51”, respectivamente.
 
 
O pedal começou seco, mas já aos 15km começou a pingar e não parou mais a prova inteira. A temperatura que estava por volta de 14C, com o wild chill factor caía para 4C. Tinha optado por pedalar sem meia e com manguito, tendo deixado um corta vento na sacola e foi muito frio o tempo todo. Segui a estratégia de socar o tempo todo, não deixando a velocidade média cair de 36km/h hora nenhuma. Pedal muito perigoso, muito escorregadio, muito caça foice, muitas descidas rápidas onde a velocidade máxima bateu 69km/h. Alguns acidentes, sendo um grave, onde o atleta foi retirado de helicóptero. Faltando 3km para o final do pedal, num posto de alimentação estendi a mão direita para pegar uma banana e quando coloquei-a na boca, fui para o chão como um pato. Até agora não descobri como caí ou o que me fez cair. Levantei com cara de idiota, puto da vida e soquei na reta final  para fechar o pedal com 2h27’26”.
A transição para a corrida foi melhor, mas ainda assim, acima do previsto. Comecei a corrida mantendo 4’40”, no padrão para fechar a prova no tempo previsto. Passei os 10k bem e fiquei animado, pois a virilha estava quietinha. No km 15 ela acordou e diminuí o ritmo. No km 18 resolvi chutar o balde e tentei voltar ao ritmo, mas a previsão de tempo já tinha ido para o espaço. Fechei a prova com 5h01’’18”.
Fiquei muito preocupado com a Tete, pois passei a prova inteira sem cruzar com ela em nenhuma das áreas e sem saber se tinha sobrevivido ao frio e chuva que nos castigara o pedal todo. Na última volta da corrida, cruzei com ela e fiquei mais tranquilo. Minha mulher é o máximo. O tempo que ela fez na Áustria, 6h05’11”, que lhe deu a 35ª posição na faixa etária, a colocaria no podium de Penha em 3º lugar da classe, carimbando possivelmente seu passaporte para Las Vegas.
Depois da chegada, tudo foi festa. Muita Weissbier, Tiroler Gröstl, Kassnökl, Kaiserschmarren e alegria com os amigos de uma vida toda.
Mais uma vez, seu planejamento deu certo e suas orientações foram fundamentais para cruzar a linha de chegada saudável e querendo mais, muito mais....
É Wéio, você terá que me aturar por muito mais tempo. Ano que vem, vamos ter que socar muito mais, pois o velhinho que levou a vaga na minha faixa etária, fez 4h28’36”.
Abraços e muito obrigado pelo carinho de sempre."
 

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